spooktober 2022

     Esse mês de outubro, eu decidi entrar no clima de halloween (ou dia das bruxas) e fazer uma maratona só de filmes de terror/suspense. Eu tentei seguir listas de desafios que eu achei na internet, mas a maioria delas era de 31 filmes diferentes para os 31 dias e eu não tive tanto tempo assim para isso; então eu optei por 1. ver nos finais de semana 2. filmes de diferentes décadas e estilos. No final, eu assisti sete filmes e uma série esse mês; e deixo minhas opiniões sobre eles aqui.

1. This House Has People In It (2016)

   This House Has People In It é um curta de terror found-footage, dirigido pelo Alan Resnick e transmitido na Adult Swim. Ele se passa em uma casa vigiada por câmeras de segurança em todos os cômodos, onde uma típica-família-americana passa por um acontecimento sombrio e surreal.
   O filme tem uma aura bem uncanny desde o primeiro segundo, com as câmeras seguindo os personagens de todos os ângulos, cervos passando ao redor da casa... até as próprias interferências e movimentos característicos de uma câmera de segurança dão medo no filme. Aliás, a própria premissa já causa esse estranhamento: por que essas pessoas tem câmeras ao redor da casa? Por que os personagens agem tão normalmente em um ambiente tão estranho?
   O curta vai ficando mais e mais absurdo, tanto pelo drama familiar quanto pelo terror inexplicável que os personagens passam nesses 11 minutos, e a própria forma do filme que vai ficando mais caótica, como se a câmera estivesse assombrada. As atuações do filme também são muito boas e elevam ainda mais tudo isso. Me deu pesadelos. Muito bom. E tem no youtube!

2. All About Evil (2010)

   All About Evil conta a história de uma bibliotecária que herda o cinema falido do pai e começa a assassinar pessoas para gravar e vender como filmes de terror fictícios. O filme é de slasher e comédia, foi dirigido pelo Joshua Grannell (ou Peaches Christ) e tem a participação da Cassandra Peterson (mais conhecida como Elvira, A Rainha das Trevas).
    O filme é divertido, sangrento, trash e... okay. Eu diria que o maior problema dele é o núcleo ensino-médio dele, que é muito desconexo e fora do tom com a história principal, e a parte final do filme, que não amarra tão bem as pontas. Mas de pontos positivos, eu gostei muito da atuação extremamente camp da Natasha Lyonne, dos figurinos e todo o estilo de filme B/exploitation. É okay.

3. Bound (1996)

   O primeiro filme das irmãs Wachowski (que dirigiram Matrix), Bound (ou Ligadas Pela Desejo, na tradução Tela Quente) conta a história de uma ladra que se envolve com a esposa de um mafioso, e o plano que as duas armam para roubar dinheiro da máfia e fugir juntas. É um filme de suspense neo-noir, crime e couro.
    O filme é extremamente bem feito tanto no roteiro quanto no visual. O romance da Corky e da Violet é envolvente desde a primeira troca de olhares e as atrizes tem MUITA química, além das personagens serem interessantes individualmente também. O filme mostra o roubo do planejamento das duas ao desenrolar cada vez mais caótico dele, elevado pelo marido-mafioso-maluco da Violet; o suspense e as reviravoltas (grandes e pequenas) da história vão ficando mais e mais intensas até o clímax. Como a Corky diz:
For me, stealing's always been a lot like sex.
    Visualmente, o filme prenuncia muita coisa que as Wachowski usariam em Matrix posteriormente: ângulos das cenas, o efeito "bullet-time", Joe Pantoliano... e o couro, claro. O filme também usa muito de símbolos da subcultura lésbica americana, de uma forma bem respeitosa (algo inesperado para um filme de máfia dos anos 90). Curiosamente, pelo menos 75% do filme se passa dentro de um apartamento, mas ele é tão intenso que eu nem percebi. Enfim, é um ótimo filme.

4. Midnight Mass (2021)

    Eu vi algumas pessoas indicando as séries desse diretor, o Mike Flanagan, que tem uma carreira bem prolífica no cinema de terror. Essa foi a que me pareceu mais interessante pela sinopse e o Hideo Kojima tietando um dos atores, então decidi assistir. A série, basicamente, conta a história de um cara, o Riley, que volta para sua cidadezinha, a católica e isolada Ilha Crockett, depois de passar alguns anos na prisão; ao mesmo tempo, um padre novo chega na igreja da ilha, e milagres começam a acontecer.
    A série tem vários personagens e narrativas: a amiga de infância do Riley, o xerife, a fanática que inferniza todo mundo... de certa forma, a ilha inteira e a relação deles com a fé são as protagonistas aqui. O padre Paul, desde o primeiro episódio, também é uma força muito enigmática dentro da história, e ele vai ficando mais complexo a cada episódio. A série toca bastante nas ideias de religião, manipulação, o divino e o monstruoso.
    Em alguns momentos, a série é lenta, sobretudo por conta dos monólogos, que eu achei um pouco ambivalentes aqui. Todo episódio tem pelo menos um, e alguns são interessantes, mas outros parecem ocupar muito tempo e não dizer muito. As mudanças de ritmo entre episódios (que tem uma hora de duração) dão um certo cansaço. E eu senti que algumas cenas poderiam ser mais... bonitas, talvez? mas isso provavelmente fica por conta das regras de gravação de streamings.

5. Fright Night (1985)

   Um filme feito durante a febre vampiresca dos anos 80, Fright Night conta a história de Charley Brewster, um adolescente fã de filmes de terror, que precisa lidar com seu novo vizinho Jerry (um vampiro) com a ajuda de sua namorada, seu amigo e um caça-vampiros/dublê do Vincent Price. É uma comédia de terror e foi dirigido e escrito pelo Tom Holland (que também dirigiu o primeiro Chucky).
    Essencialmente, é um filme adolescente oitentista sobre vampiros, e ele é bom em ser tudo isso. Tem várias homenagens e referências ao cinema de terror clássico dentro da história, desde a caracterização do Jerry, que tem vários poderes e traços típicos de vampiros clássicos (incluindo alguns que geralmente são ignorados em filmes mais modernos, como só poder entrar nos lugares convidados); até o personagem do Peter Vincent, que invoca atores conhecidos do terror, como o Vincent Price e o Christopher Lee.
    Ele também virou um filme cult, e acabou ganhando um documentário de três horas sobre a produção dele, chamado You're So Cool, Brewster!: The Story of Fright Night, e um remake em 2011. Foi divertido de assistir, tem uma aura Sessão da Tarde (no sentido positivo). Fiquei para ver o 2.

6. O Gabinete do Dr. Caligari (1920)

   Eu tinha ouvido falar desse filme algumas vezes, mas o que me levou a assistir foi a indicação de uma amiga. O filme, feito há mais de um século, mostra as lembranças de um homem que passa por eventos estranhos depois de visitar o misterioso Gabinete do Dr. Caligari, o show de um médico que exibe seu paciente Cesare, um sonâmbulo que faz previsões.
    Esse é o longa-metragem mais antigo que eu já vi; é muito interessante notar como ele foi pioneiro em várias técnicas, e é literalmente o primeiro filme de terror (e também o primeiro filme com um gótico-usuário-de-delineador do cinema). O filme é mudo e acompanhado por música e intertítulos, os cenários são tortos e sinuosos (algo característico do Expressionismo Alemão) e a história usa uns recursos narrativos muito inovadores para a época, alguns que me surpreenderam. Ah, e eu também achei muito legal a biografia do Conrad Veidt (o Cesare). O filme está no disponível no youtube.

7. The Thing (1982)

   O John Carpenter é um dos diretores de terror mais conhecidos, mas, por algum motivo, eu nunca tinha visto nada dele. Depois de ver o anúncio da quinquagésima sequência de Halloween, eu decidi procurar os filmes dele, e escolhi começar com The Thing. O filme conta a história de uma equipe de cientistas na Antártica que acabam entrando em contato com um ser capaz de infectar e assimilar a forma de qualquer ser vivo.
    A paranóia é um tema bastante central do filme, que é tenso e aterrorizante do início ao fim. Á medida que os personagens vão tentando lidar com a situação, comandados pelo MacReady, o isolamento e a desconfiança deles vai aumentando e questões sobre a natureza da Coisa vão surgindo. O filme tem momentos de body horror e alguns jumpscares (muito bem feitos, aliás), mas todas as cenas estão permeadas de terror psicológico. O filme foi feito com efeitos especiais práticos, e eu acho que eles envelheceram bem.
    O final do filme acabou ficando famoso por deixar uma questão em aberto, e eu vou dizer minha opinião aqui: (spoilers!) Eu acho que o Childs e o MacReady eram ambos humanos no final e que a Coisa morreu, mas por causa da paranóia, eles só esperam a morte um do outro. Eu passei vários dias pensando e lendo sobre o filme, e achei um simulador do programa de computador que é usado para avaliar o nível de contágio da Coisa. Eu vi com as expectativas altas e me impressionei, realmente é obra-prima do terror e da ficção científica.

8. Phantom of The Paradise (1974)

   Esse foi o último filme que eu vi na minha maratona de Halloween, e eu assisti sem saber muito sobre. É um musical de terror que conta a história de Winslow Leach, um homem que vende sua alma e tem suas composições roubadas por um produtor ambicioso, e, depois de perder tudo, passa a viver como o vingativo "fantasma" dentro de seu palácio do rock, o Paraíso. O filme mistura várias obras clássicas, como Fantasma da Ópera, Fausto e O Retrato de Dorian Gray. Foi dirigido pelo Brian de Palma e tem a participação do Paul Williams (que atuou e compôs a trilha sonora).
    O filme, desde a primeira cena e música, faz uma sátira a indústria musical comercialista da época, do tratamento que os artistas recebem pelo Swan (o produtor) ao próprio ato de ter que vender sua alma só para poder sobreviver. Como as obras que inspiraram o filme, é uma história de amor, vingança e ilusão, mas que também é única e surpreendente. As músicas são ótimas e os atores cantam muito bem (principalmente a atriz da Phoenix, que voz). O filme também é muito bonito visualmente, e algo que me chamou a atenção é o design do Winslow/Fantasma, que eu descobri que foi a inspiração para aquele visual do Griffith de Berserk... o mundo é pequeno.